segunda-feira, 5 de abril de 2010

Gotas de Logevidade V

Desceu as escadas ainda com dificuldade, mas pelo seu próprio pé. Uma felicidade cega preencheu toda a sua alma. Foi o mais depressa que conseguiu até à cozinha, para mostrar à família.
- Ahhh! – Gritou Cristina. – A MÃE ESTÁ A ANDAR SOZINHA! – Ela chorou e abraçou a velhinha. – É UM MILAGRE!!! – O homem apareceu no topo das escadas.
- Mas para que estás a gri… – Ficou a olhar embasbacado para a velha. – Mas o que é que fez? – O rosto iluminou-se em felicidade. – Você parece óptima. – E foi abraçar a velhinha.
- Foi a água benta milagrosa. – Disse a velhinha chorando de felicidade. Numa voz que se pronunciava com menos dificuldade e mais agilmente. – Eu disse que ela me ia fazer sentir melhor.
- Meninos venham ver uma coisa cá abaixo. – Chamou Cristina. Os dois netos apareceram no cimo das escadas, surpresos. E começaram a correr em direcção á avó.
- Resultou! – Gritou a menina. – O que a Elisabete disse era verdade! – O rapaz estava a lado dela a olhar maravilhado para a avó. Ela abraçou os netos com força.
- Temos que visitar o seu médico! – Cristina disse entusiasmada. – O que vai ele dizer quando vir isto. – Ela estava frenética. – Depois de nos ter dito que a mãe não ia voltar a andar.
- Hoje não! – Disse a senhora fazendo uma lista mental de todas as coisas que queria fazer. – Tenho muito que aproveitar. – A filha não ficou satisfeita, embora estivesse feliz pela mãe. Uma preocupação paralela apoderou-se dela
Foi um momento como já há muito tempo não tinham em família. Nesse dia todos saíram num passeio, almoçaram e jantaram fora. Foram ao cinema, passaram pelo centro comercial e ainda tiveram tempo de levar a senhora a visitar algumas amigas. Que para seu espanto, algumas tinham falecido, outras estavam internadas… todas tinham o peso da idade. Por isso desistiu de as visitar, para que elas não se sentissem mais mal.
Mas independentemente disso, ela quis aproveitar o tempo com a família, sobretudo com os netos. A velhinha não se lembrava de quando foi a ultima vez que se divertiu tanto. Fartou-se de contar histórias aos netos, de brincar com eles. A filha falou com ela sobre algumas mudanças que tinham ocorrido na vida profissional dela, que nem se tinha apercebido. O homem contou alguns planos que tinham para se mudar para uma casa mais perto dos empregos dele e da mulher.
À noite a velhinha não tomou mais nenhuma gota. Lembrando-se do conselho de que não devia tomar mais de uma gota por mês. Só no último dia tinha tomado umas dez. Um arrepio percorreu-lhe a espinha. Mas ignorou, ficou a olhar para o seu reflexo levemente rejuvenescido por um bocado e foi-se deitar com um sorriso nos lábios.
No outro dia de manhã, ela sentia-se bem. Tinha repousado muito bem durante a noite, não tinha qualquer tipo de dores. Abriu os olhos e levantou-se da cama. Quando foi olhar-se ao espelho teve o choque da sua vida. Ela olhava para o reflexo de uma mulher que aparentava ter cinquenta anos. Era ela com cinquenta anos. As rugas mais disfarçadas. Os olhos castanhos avelã. Um perfil magro e elegante. Tudo exactamente como ela se lembrava na altura, excepto algumas mechas de cabelo branco misturado com cabelo castanho claro. Ela correu para a mesa-de-cabeceira. Era cedo, provavelmente ainda ninguém se tinha levantado. Ela estava muito feliz, mas não sabia como contar a novidade à família. Eles não iam acreditar que era ela. Ou talvez até fossem, afinal a filha dela devia lembrar-se do aspecto da mãe há uns anos atrás.
Não sabia se havia de estar entusiasmada ou com medo. Estas mudanças de contranatura agitavam parte das suas crenças religiosas. O padre Marcelino não iria ver aquilo com bons olhos. Possivelmente chamar-lhe-ia de demónio ou assim. Mas o pior era uma questão que pairava sobre si. Quando é que o processo de rejuvenescimento iria parar?
Quando ouviu a primeira pancada na porta perguntou quem era. Era a filha, por isso pediu para que entrasse no quarto e que se mantivesse calma. A filha assim o fez, nervosamente. Quando encarou a mãe, a sua expressão transformou-se num misto de choque e felicidade.

2 comentários:

  1. Você tem razão Luna:

    O jogo de cores das obras deixa a noite inspiradora.

    As pessoas que ali estão em suas moradias podem dizer: somos felizes!

    Estive por aqui.

    Abraços.

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  2. Nhaaaii Luna, tão bunitinhu
    mas to com medo por ela...O processo ta acelerado e perigoso, como serpa q vai se desenrolar!!!?
    *---------------------------*
    Vou ler o prox *-*

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