És apenas mais um caso,
Aquele que por todos desprezado.
Sabes que foste abandonado,
E que isso não foi mero acaso.
Sentes a dor ardendo dentro do teu peito,
Como se o teu coração fosse corrosivo,
E ateado pela tua acção, num gesto perfeito,
Num momento que foi decisivo.
Toda a sua dor tornou-se tua,
Viste os seus olhos de agonia,
Ela chorava, meio nua,
E conseguiste ver a ironia.
Tu viveste a tua própria traição,
Onde perdeste o teu coração.
E lá enfrentaste o teu medo,
Embora já não fosse cedo.
Embora tarde, mantiveste-te fiel,
Gentilmente alçaste o cinzel,
E afundaste-o no seu peito,
Num gesto macabro mas perfeito.
O liquido vermelho escuro jorrou,
Como se libertasse de uma prisão,
O seu gemido e o seu choro cessou,
E levou a mão ao coração.
Tão simples e natural,
O sangue e as lágrimas,
Numa doce comunhão passional
Se diluíram perante as lástimas.
Arrependido ou não,
Sabes que não foi uma ilusão.
E perante outros o afirmaste,
Que com amor a mataste.
Julgado pela sociedade,
Amaldiçoado pela atitude,
Agarras-te à loucura,
Como uma coisa só tua.
Pois só assim te permitirão,
Viveres na solidão.
Sem qualquer arrependimento,
E sem sofrimento.