quarta-feira, 12 de maio de 2010

Gotas de longevidade: VIII

Antes de irem visitar o médico, Lucy fez questão de comprar mais roupa, algo que lhe servisse. Alguns rapazes, demasiado novos para ela, na sua perspectiva, faziam-lhe olhinhos e sorrisos sugestivos. Não pode deixar de se sentir envergonhada com o quão directos eram os rapazes, nada disso acontecia no seu tempo. Mas não deixava de se sentir lisonjeada e vaidosa. Numa das lojas, quando Carlos pagava a conta. A mulher que estava na bancada lisonjeou-o por ter uma filha tão bonita. Lucy não pode conter um risinho. Carlos respondeu:
- Saiu à mãe.
Quando foram ao médico, tiveram que marcar presença como se fosse a filha de Lucy a ir ao médico.Quando Lucy entregou os seus documentos a mulher que estava ao balcão olhou para ela com ar sério.
- Acho que se enganou nos documentos. – Depois disse com tom irónico. – Ou isso ou tomou banho nas termas da juventude.
No médico não foi diferente.
- Vá lá, Cristina. Não goze comigo desse jeito. Já nos conhecemos há tantos anos.
- Mas é a verdade. – Disse Lucy.
- Minha querida. Eu não posso negar que tenha alguns traços semelhantes à Dona Lucy, mas daí a fazer-me crer que é a Dona Lucy. – O médico riu. – Então é neta da Dona Lucy?
- De maneira nenhuma. – Disse Lucy já aborrecida. – Anda Cristina, filha. Eu estou a sentir-me bem. Eu disse que não havia necessidade de virmos. – O médico riu novamente.
- E também sabe falar como a Dona Lucy. – Parou de rir. – Eu tenho ai pessoas à espera de consulta que realmente precisam de mim. O dia das mentiras foi anteontem, parece-me que estás um pouco atrasada.
- Mas doutor. Eu estou a dizer a verdade. Faça um teste de ADN e confira se é verdade ou não.
O médico acabou por se aborrecer com elas e foram expulsas do consultório. Cristina olhou para a mãe com tristeza.
- Querida, eu estou bem. Não precisamos mais de vir ao médico. – Depois olhou para trás. – Muito menos para este. Que mal-educado!
- Isto só comprova o que eu lhe disse. O que lhe está a acontecer não é natural.
Voltaram para casa. Cristina conseguiu encontrar uma morada para a Elisabete Andrade. No outro dia de manhã ela iria fazer uma visitinha a essa mulher para saber o que se estava a passar.
Lucy foi novamente com os netos ao parque. Mas desta vez brincou com eles nos baloiços e só não andou nos escorregas porque não era próprio para uma rapariga de saia. Junto ao parque infantil, há um parque de Skate, geralmente cheio de rapazes. Os seus dois netos olhavam-na com curiosidade, vendo-a atrapalhada com um ou outro piropo que lhe mandavam. Um rapaz alto e loiro foi até ao parque infantil para meter conversa com Lucy.
- Olá! – Disse-lhe o rapaz enquanto se encostava ao poste do baloiço. Lucy continuava a empurrar o baloiço da neta.
- Olá. – Respondeu-lhe com pouco entusiasmo.
- Notei que às vezes ficas a olhar ali para as minhas manobras. – O rapaz esboçou um sorriso travesso. – Já alguma vez experimentaste andar de skate.
- Não. Não tenho idade para isso. – Ela ia dando ligeiros empurrões nas costas da menina que se divertia com o balanço. O rapaz riu.
- Como não tens idade? – Ele pousou o skate no chão, colocando um pé em cima deste. – Não me pareces muito mais velha que eu.
- Que idade tens? – Lucy olhou para ele séria. – 16 ou 17?
- Não. Eu tenho 18.
- É quase o mesmo. – Os seus netos olharam-na com curiosidade. – Em vez de andares ai aos pulos em cima dessa geringonça devias estar a estudar em casa. Não me parece que daqui a uns anos isso te ponha a comida na mesa. – O rapaz ficou a olhar para ela. – E devias saber que é impróprio meteres-te com uma mulher acompanhada de duas crianças!
- Credo! Pareces uma velha a falar! Foste criada nalguma escola de freiras?
- Não. – Lucy colocou as mãos nas ancas. – E não te ponhas com insinuações em relação às freiras! São pessoas dedicadas…
- Já percebi! Não queres falar comigo tudo bem! – Ele virou as costas, calcou o pé no skate e apanhando-o e colocando-o debaixo do braço. Indo-se embora, fazendo um círculo com o dedo indicador perto da testa para os amigos, dando um assobio mudo. Para indicar aos amigos que a rapariga não era boa da cabeça.
- Viste querida? – Disse para a neta. – Quando fores crescida e um destes rapagões se meter contigo e tu não quiseres tens que te dar ao respeito. – A rapariguinha riu.




Peço desculpa pela demora deste ultimo post, tenho tido dificuldades em gerir o meu tempo.
Mas não esqueci o meu blog, e claro nem dos meus leitores/as.
Este será o penultimo episódio de "Gosta de Longevidade", o ultimo está para breve, aguardem....
=D





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