quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Toque da noite: XVIII


“Não sei se será assim com toda a gente. Mas há momentos na minha vida em que me deparo com uma confusão tão profunda que deixo de ter noção do que fiz ou do que faço. É como uma tristeza muda e silenciosa a consumir toda a minha alma.
É-me muito difícil aceitar o que se passou. Não que não fosse algo a que estivesse já de certa maneira familiarizada. Mas porque desta vez eu tinha apoio e criara algumas expectativas em relação a isso. É daquelas vezes em que as forças me falham e só me apetece ficar fechada no quarto, dentro da minha cama, na escuridão, para fazer com que pareça que o tempo parou. Mas não me posso permitir a isso. Tenho a minha avó, que já sofre com toda esta minha situação e não quero aumentar a sua dor ainda mais. Ela não se zangou comigo quando lhe contei tudo. Ela não me disse nada. Apenas me abraçou e chorou comigo. Não a posso amar mais do que já amo, é impossível. Ela é a única que se esforça para me compreender e que fica a meu lado, independentemente daquilo que aconteça. Ou das minhas escolhas.Com ela não são necessárias palavras para exprimir e tentar dizer que o que sonho e se passou é verdade.
Sinto-me magoada pelo que Daniel me disse. Mas ele não tem culpa. Penso na nossa conversa e vejo o quão difícil deve ser estar na sua posição, embora a minha seja de longe a mais complicada. Ele tem todo o direito em não acreditar em mim. Afinal as evidências estão todas contra mim.
Ainda não consegui falar com a Tatiana. Ela deve estar a sentir o mesmo que Daniel. E provavelmente unir-se-á a ele quando ouvir a teoria dele.”

Maria acompanhou a avó até casa de Tatiana. A Dona Medina queria estar junto da família para ajudar no que fosse preciso. Eles também a apoiaram muito quando o marido morreu. Quando chegaram estavam todos na sala de estar, tal como se esperava num ambiente silencioso e pesado. Muito desconfortável.
Foi realizada uma busca pela criança, com cães para seguir um possível rasto. Mas como seria de esperar, não alcançaram nenhum o que deixou toda a gente confusa.
Tatiana parecia um tanto ansiosa quando viu Maria. Ela fez-lhe sinal para que se aproximasse.
- Está tudo bem? – Perguntou-lhe Maria.
- Não. – Ela fechou a porta da cozinha, para que pudesse falar mais à vontade. – Já chamei o Daniel para ver uma coisa. – Os olhos dela humedeceram-se.
- Para ver o quê?
- Desculpa, mas só vos mostro quando estiverem os dois juntos. – Ela limpou as lágrimas.
- Aconteceu mais alguma coisa? – Maria aproximou-se e abraçou-a.
- Sim… – Tatiana soluçou. – Aconteceu o que de certa forma se esperava. – A campainha tocou. Tatiana limpou os olhos e tentou recompor-se. Saíram as duas para a sala. Daniel olhou-as interrogativamente. E seguiram os três para o quarto de Tiago. Visto que não podiam entrar no quarto onde tudo tinha acontecido. Ninguém na sala esteve atento o suficiente para achar aquele encontro estranho. A avó Medina abraçava a mãe dos gémeos. Enquanto o resto das pessoas fixavam o vazio, pensativamente.
- Sentem-se. – Pediu Tatiana enquanto colocava um CD no computador. – Vão precisar quando virem isto.
Maria não sabia o que se passava, mas acreditava que nada podia ser pior. Daniel olhou para ela e de seguida para Tatiana que se sentou junto a eles. Um vídeo começou a passar. Era o quarto de Tatiana, num ângulo que dava para ver todo o quarto. Maria levantou-se, mas não fez mais que isso. Toda a cena que se passou na noite anterior repetiu-se naquele computador. Cada momento de terror, desespero e sofrimento passou pelos olhos dos três. Tatiana voltou a chorar, mas silenciosamente. Daniel tinha a boca aberta, com as sobrancelhas contraídas. Num misto de surpresa e choque. Maria estava calma, embora cada imagem fosse como uma bofetada na sua cara.
O filme parou com Tatiana a dirigir-se para junto da câmara que filmou tudo. Daniel olhou para Maria, desta vez com total choque na sua cara. Tatiana retirou o CD do computador. Voltando para o lugar onde estava sentada. Maria encarou Daniel.
- Não sei o que dizer… – Disse Daniel.
- Talvez que agora já acreditas que é real. – Disse Maria calmamente. Enquanto isso, Tatiana chorava e Maria colocou um braço em seu redor.
- O que terá acontecido ao Alex…? – Tatiana olhou para os amigos. Ficaram silenciosos. Daniel agarrou na mão de Tatiana. – E que raio era aquela coisa? Que até a câmara de filmar captou…. – Daniel ficou calado, Maria abanou a cabeça. Os três ficaram a olhar para o computador desligado.

3 comentários:

  1. eba!
    Essa é pro daniel aprender!hsauhasusahsau
    Amei a idéia da camera...Alguns especialistas em espiritualidade até defendem a tese de que em algunas aparelhos, como cameras filmadoras ou fotgráficas, o sobrenatural aparece com mais facilidade=D
    Adorei o tempo do texto, está perfeito!
    espero o próximo
    bjkz╬♥╬

    ResponderEliminar
  2. Foi uma boa forma de dar a volta!


    É impressão minha ou isto está com ares de que está a chegar perto do final?

    Fica bem! ;)

    ResponderEliminar