segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Toque da noite: XVII

A manhã não melhorou. Todos estavam tensos. Teresa estava num estado difícil de descrever. Parecia apática a tudo o que a rodeava. Não respondia a nenhuma questão se não lhe tocassem ou a obrigassem a olhar directamente para alguém. Maria ficou ao lado de Chico, o outro gémeo, tomando conta dele. Daniel ficou com ela, mesmo que ela não lhe tenha dirigido palavra desde a sua ultima conversa. A criança estava confusa, não percebia porque é que um homem que ele não conhecia de lado nenhum, lhe tinha feito perguntas sobre onde estava o irmão. Tal como nós ele disse que não sabia, que o irmão estava junto deles e que desaparecera sem ninguém se aperceber.

- Maria?
- Sim querido? – O menino olhou para ela, muito sério.
- Onde achas que o meu mano está? – Foi a primeira vez que Maria lançou um olhar a Daniel, um pedido de ajuda, mas ainda assim um olhar.
- Sabes aquela vontade que às vezes nos dá de ir brincar para um sitio diferente, onde ninguém nos possa encontrar? – Francisco ficou a olhar para ele, pensativo, mas acabou por abanar a cabeça.
- Não. – Respondeu. Daniel não se deixou atrapalhar.
- Às vezes temos essa vontade. Nos adultos acontece mais vezes. Mas o Alex pode ter-se lembrado de ir brincar para a rua, sem dizer nada a ninguém.
- Mas ele não ia. – Disse Chico. – Ele nunca disse a ninguém a não ser a mim. Mas ele tem muito medo do escuro.
- Pode ter ido para a entrada. Sabes que a luz do candeeiro da rua ilumina tudo lá. – Ele não pareceu muito convencido com a explicação de Daniel e continuou com as perguntas.
- Mas se foi brincar para a rua porque é que desapareceu? – Maria e Daniel ficaram em silêncio por segundos. – Acham que foi o papão? – Daniel teria rido se não fosse uma situação daquelas. Porque até ele, chegou mesmo a pensar que poderia ter sido uma espécie de papão. A mãe de Tatiana apareceu.
- Chico vem ao pé da tua mãe. Ela quer que venhas tomar o pequeno-almoço com ela. – O menino levantou-se e foi em direcção à porta. – Venham também.
- Obrigada senhora Filomena, mas eu vou tomar o pequeno-almoço com a minha avó. Esta noite acabamos por não dormir nada e acho que vou aproveitar para descansar um pouco agora de manhã. – Enquanto falava Maria levantava-se.
- Vai querida. Vão os dois. Vocês precisam de descansar e já ajudaram muito. A Tatiana deixou-se de dormir no sofá, já está a descansar um pouco. Se houver novidades eu ligo-vos.
- Até logo senhora Filomena. – Disse Daniel.
- Esperem lá. – Daniel e Maria viraram-se para Filomena. – Depois de uma coisa desta eu não vou deixar que vás a pé sozinha para casa. Mesmo que lhe faças companhia. – Disse apontado para Daniel. – Acabas por ter que vir tu sozinho.
- Não é… - Começou Daniel. Mas Filomena já estava a chamar João. – Importas-te de levar a Maria até casa?
- De maneira nenhuma. – João desceu as escadas e foi até ela.
- Vê se voltas a tempo do pequeno-almoço. – E Filomena foi para dentro de casa.
- Depois de um desaparecimento fazias contas de ir para casa sozinha? – Disse João. – Corajosa.
- Eu ia com ela. – Daniel disse. – Até logo! – Despediu-se mais para Maria do que para João.
- Até logo vizinho! – Disse João em tom desafiador. – De certeza que não queres boleia até casa? – Daniel continuou a caminhar, sem responder.
- Tu também tens que estar sempre a meter-te com ele. – Observou Maria.
- Acho que é um sentimento recíproco. Ele também passa a vida a meter-se comigo. – João abriu a porta a Maria, num acto cavalheiresco. Faceta que ela desconhecia.
- Mas tu és mais velho. Não devias ser tu a dar o braço a torcer?
- Nah. Estamos bem assim. É mais saudável. – Maria não percebeu, mas também não fez mais perguntas. -Como é que o puto desapareceu debaixo dos narizes deles sem se aperceberem?
- Como? – Maria olhou para João.
- Tu não estavas lá. Mas não achas esta história estranha?
- Sim. Um bocado.
- Acho que há ali falta de qualquer coisa. Está ali algo mal contado.
- Achas que eles estão a mentir?
- Não…
- Então qual é a teoria?
- Não sei, mas como é que alguém anda num quarto sem chamar a atenção de pelo menos uma das três pessoas que estão a mais no quarto. – Maria já via a casa da avó. – E ainda por cima estavam dispostos em triângulo, certo?
- Como assim?
- A Tatiana e o Chico estavam sentados na cama. O Daniel em frente à cama, quase por detrás da televisão, num dos puffs. Parte-se de um princípio que todos os lados do quarto eram visíveis pelo menos a uma pessoa. Como é que não se deram conta, ao menos, de uma criança a pôr-se de pé?
- Não te esqueças que o Daniel estava a jogar consola. O que requer muita concentração…
- Tens razão. Mas não deixa de ser estranho. – Parou o carro mesmo em frente da entrada.
- Andas a ver muito CSI. Essas teorias nem parecem tuas.
- Eu sou muito mais inteligente do que pensas. – Ela saiu do carro.
- Obrigado pela boleia!
- De nada. – Maria não fechou a porta de casa até ter a certeza de que João já tinha passado os portões.
Agora vinha a parte mais difícil. Contar à sua avó o que se tinha passado.

2 comentários:

  1. aiaiaiaiai...Estarei esperando o próximo, tenha certeza!!!!
    Mas fala sériu, qq o João precisa abrir a boca? O.O'
    hehe
    Estarei na espera...
    Bjkz
    ╬♥╬

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