quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Toque da noite: X

À noite, voltou a ter o mesmo sonho com os gémeos e o acidente. Acordou sobressaltada. Não era o tipo de coisa agradável para se sonhar à noite. Levantou-se da cama e correu a cortina da janela, de maneira a que nenhum raio de luz do candeeiro da rua pudesse penetrar no seu quarto. Ela sentia-se cansada, mas não se atreveu a dormir novamente. Sentou-se na cama, com os joelhos junto ao peito, abraçando-os. E ficou a pensar na melhor maneira de contar aquilo tudo a Tatiana. Pegou no telemóvel para ver as horas, tinha recebido uma sms e nem se tinha apercebido. Era de Daniel, a desejar-lhe boa noite e a dizer-lhe para que não se preocupasse, que ele ia pensar numa solução. Maria gostava de poder pensar assim, mas na verdade não o fazia. Era mais forte do que ela. Um pressentimento que se abatia sobre ela, de que nada podia fazer. Eram cinco da manhã. Ela continuou sentada na cama, mas o sono estava a voltar. Traindo a sua consciência. Por vezes dava por ela a fechar os olhos. Levantou-se e foi até à secretária, ligou o computador, decidiu aproveitar a internet rápida e ilimitada a que tinha acesso ali. Foi ao mail, visitou o you tube em busca de videoclips e entrevistas a celebridades. Mas o sono foi mais forte, e deixou-se de dormir na secretária.
Desta vez não sonhara com nada. Acordou com uma dor no pescoço. Mas correu para a cama. Ligou para Tatiana, sem ver que horas eram. Não sonhar com aquele terrível acidente não era coisa boa. O gémeo já podia ter desaparecido.
- Sim. – Uma voz muito sonolenta soou do outro lado da linha.
- Tatiana, sou eu. Está tudo bem?
- Maria. Estás-me a ligar às sete e meia da manhã, no final das férias do Verão. Só para me perguntar isso? – A voz sonolenta ia aumentando de tom. – Mas tu estás louca? – Disse dramaticamente.
- Desculpa. – Maria disfarçou. – Eu … estava com saudades.
- Está tudo bem. Dentro dos possíveis. Agora que já sabes. Eu vou voltar para a minha cama e vou dormir mais um pouco. E podes-me ligar mais logo.
- Ok. Desculpa.
Maria acalmou-se. Nada tinha acontecido. Mas podia acontecer.
O Domingo foi passado em vários centros comerciais da zona. Leonor estava animada por ir às compras com a filha. Ela tinha voltado a ser a mãe que Maria conhecia antes de ter pesadelos. Como uma mulher moderna, Leonor dava opiniões e sugestões nas roupas que a filha experimentava ou devia experimentar. A avó Medina ficou com o filho em casa. Para grande desgraça de Henrique, ele teve que se sujeitar aos resmungos da mãe sobre a sua alimentação.
No final do Domingo, Leonor decidiu que Henrique e ela deviam vir visitar Teresa e dar-lhe os pêsames pessoalmente. Maria não gostava da ideia, mas como tinha mais uma mala de roupa para levar, achou que era bem mais útil irem de carro. Além disso, as paragens e as voltas que se perdiam no autocarro em cada paragem faziam com que a viagem dura-se mais tempo. Assim, iam directas para casa.
Quando iam na estrada que dava acesso para a aldeia, Maria sentiu-se deprimida. Passaram pelo local do acidente. Milhares de pequenos brilhos incomuns ao terreno ofuscavam-na, ainda havia vidros partidos debaixo do grande sobreiro que estava lascado. Chegaram de noite, mas os faróis do carro eram suficientes para iluminar aquela área.
- O quarto de hóspedes tem lençóis lavados. A avó quer que tenhamos sempre a cama preparada não vá alguém precisar de dormir lá. – Henrique riu-se.
- Está sempre à espera de uma visita surpresa, não é mãe?
- Vocês sempre gostaram de aparecer sem avisar uma pessoa. – A velhinha resmungou, enquanto arrastava os pés até à cozinha.
- Isto parece estar com muito melhor aspecto. – Comentou Leonor, enquanto corria a vista pelo corredor e pela sala de estar. – A Maria tem-lhe sido bastante útil cá em casa.
- Quando os anos te pesarem, estou para ver se não é a Maria que te vai valer. – Gritou a velhinha da cozinha.
- Bom trabalho. – Disse Leonor a Maria. Ela sentiu-se corar. Na verdade, desde que foi às compras com a mãe só ouviu elogios da parte dela. As coisas pareciam ter mudado da noite para o dia. A simples notícia de que ela já não tinha sonhos, ou melhor, o facto de ter mantido ocultos os últimos sonhos, fez com que o grande buraco escuro desaparecesse.
- Eu vou levar-vos até ao quarto de hóspedes. – Maria subiu as escadas com as duas malas dela. Henrique seguiu-a carregando as malas dele e da mulher. Ouviu-se o relógio da sala de estar a tocar.
A avó Medina subiu para se juntar a eles. Levando a sua pequena mala de viagem. Foi até a um alto e antigo guarda-fato e tirou de lá duas grandes almofadas.
- As fronhas estão na primeira gaveta da cómoda. – Disse a Leonor. Ao ver a avó e a mãe entretidas, procurou pelo pai. Ele estava junto a uma cadeira, com uma das malas abertas, tirando o pijama dele. Maria escapuliu-se para o quarto e ligou para Daniel.
- Estou? – Disse o rapaz.
- Sou eu a Maria. – Maria sentou-se na ponta da sua cama. – Já voltei para a aldeia. Estou em casa da avó. Os meus pais quiseram vir também. Mas eu preciso de falar contigo urgentemente.
- Eu posso passar por ai. São dez e meia da noite, achas que os teus pais se vão importar?
- Não sei. Talvez. Iam achar estranho. Eles pensam que já não tenho sonhos premonitórios. – Ela mordeu o lábio. – Vem cá ter, mas não passes pelo portão. Espera por mim ao pé da garagem. Mandas-me um toque para o telemóvel que eu vou ter contigo logo.
- Ok. Mas o que tens de urgente para falar comigo ainda tem a ver com esses sonhos?
- Sim. – Maria ouviu passos a aproximarem-se do quarto dela. – Olha, tenho que desligar. Mas não te esqueças de mandar toque. – Um toque soou na porta. – Sim.
- Maria queres vir comer qualquer coisa? A tua mãe está a preparar umas sandes.
- Sim, eu vou comer qualquer coisa. – Colocou o telemóvel no bolso das calças de ganga e desceu para se juntar à família.




2 comentários:

  1. Aiaiai...To anciosapara ver os próximos passos da familia*------*
    Luna,sua maneira deescrever é bem inovadora, amei a maneira que encaixa as palavras!Continue assim, seguindo aquilo q VC qr!
    Bjkz
    De sua leitora
    ╬♥╬

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