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sexta-feira, 21 de maio de 2010

Gotas de Longevidade VIX


À noite, quando se deitou, voltou a sentir ansiedade. Aquela velha sensação que é capaz de deitar qualquer um a baixo. Levantou-se e ficou a deslumbrar o seu reflexo no espelho. Rezou, com toda a fé que possuía, para que no dia seguinte não sofresse mais nenhum rejuvenescimento. Pensou em não dormir, mas o cansaço falou mais alto.
Cristina levantou-se cedo para visitar Elisabete, na morada que lhe indicaram. Bateu à porta de uma grande casa, enriquecida por um grande jardim com uma escultura do que parecia ser uma rocha que libertava uma mini cascata de água.
- Bom dia. – Disse uma mulher, na casa dos trinta, com feições um tanto masculinas e de nariz afiado. O cabelo enrolado num rabo-de-cavalo frisado. – Nós não estamos interessados em comprar nada.
- Bom-dia! Eu não sou uma vendedora. Eu estou aqui por causa de um frasco com água benta milagrosa. – A mulher pareceu não compreender.
- Desculpe?
- O nome Lúcia Rebelo diz-lhe alguma coisa? – A mulher abriu a boca de espanto.
- Lucy? És tu?
- Não. Eu sou a filha. Cristina. – A mulher desviou-se da porta, um tanto atrapalhada.
- Oh. Entre, entre.
- Obrigada. – Cristina entrou. A casa esta ricamente decorada. Sentaram-se as duas num grande sofá de pele creme. – A minha mãe tomou as gotas do frasco que a senhora lhe enviou. Ela tem rejuvenescido da noite para o dia. Principalmente nestes últimos três dias. Já passou por aparências desde os setenta, cinquenta e agora parece uma rapariga de vinte anos. – A mulher abriu os olhos de espanto, e levou as mãos à boca.
- Não, não, não. – Ela chegou-se mais perto de Cristina. – Eu escrevi explicitamente que não devia tomar mais de uma gota por mês.
- Eu não sei se ela tomou mais de uma …
- Era a única maneira de passar pelo processo de rejuvenescimento tão depressa! – Ela continuava aflita.
- Qual é a consequência?
- Uma gota representa um ano, se ela tomou mais de dez gotas num mês, vai morrer. Ela vai desfazer-se até à última célula. Imagine o processo em que é criado o bebé. Todo o desenvolvimento do feto no ventre materno, desde a primeira célula. Ela vai passar por isso, mas de forma revertida e muito mais acelerada. No máximo de uma meia hora à noite.
- Oh meu Deus. – Cristina chorou. – Há forma de evitar isso?
- Não que seja do meu conhecimento. – A mulher baixou o olhar e apertou as mãos, ansiosa. – Disse que hoje parecia uma rapariga de vinte anos?
- Não, isso foi ontem. – Cristina levantou-se.
- Já a viu hoje? – Cristina abanou a cabeça. E saiu disparada da casa. Guiou com excesso de velocidade e passou alguns sinais vermelhos. Estacionou em cima da relva na entrada da sua casa e correu pelas escadas acima, até ao quarto de Lucy. Abriu a porta de rompante e percorreu o quarto com os olhos. Estava vazio. Os lençóis da cama estavam enrugados, puxados para cima até á almofada. Cristina puxou o lençol para baixo. A cama estava vazia, há excepção de um anel que estava quase debaixo da almofada. Era um anel de ouro, com um diamante. Era o anel que o pai de Cristina deu a Lucy, depois de saber que tinha um problema grave de coração, para que ela se lembrasse que o amor deles era para sempre. Lucy nunca o tinha tirado desde o dia em que o marido lho colocou no dedo.
Cristina pegou no anel, sentou-se na cama e chorou a perda da mãe.

Fim

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Gotas de longevidade: VIII

Antes de irem visitar o médico, Lucy fez questão de comprar mais roupa, algo que lhe servisse. Alguns rapazes, demasiado novos para ela, na sua perspectiva, faziam-lhe olhinhos e sorrisos sugestivos. Não pode deixar de se sentir envergonhada com o quão directos eram os rapazes, nada disso acontecia no seu tempo. Mas não deixava de se sentir lisonjeada e vaidosa. Numa das lojas, quando Carlos pagava a conta. A mulher que estava na bancada lisonjeou-o por ter uma filha tão bonita. Lucy não pode conter um risinho. Carlos respondeu:
- Saiu à mãe.
Quando foram ao médico, tiveram que marcar presença como se fosse a filha de Lucy a ir ao médico.Quando Lucy entregou os seus documentos a mulher que estava ao balcão olhou para ela com ar sério.
- Acho que se enganou nos documentos. – Depois disse com tom irónico. – Ou isso ou tomou banho nas termas da juventude.
No médico não foi diferente.
- Vá lá, Cristina. Não goze comigo desse jeito. Já nos conhecemos há tantos anos.
- Mas é a verdade. – Disse Lucy.
- Minha querida. Eu não posso negar que tenha alguns traços semelhantes à Dona Lucy, mas daí a fazer-me crer que é a Dona Lucy. – O médico riu. – Então é neta da Dona Lucy?
- De maneira nenhuma. – Disse Lucy já aborrecida. – Anda Cristina, filha. Eu estou a sentir-me bem. Eu disse que não havia necessidade de virmos. – O médico riu novamente.
- E também sabe falar como a Dona Lucy. – Parou de rir. – Eu tenho ai pessoas à espera de consulta que realmente precisam de mim. O dia das mentiras foi anteontem, parece-me que estás um pouco atrasada.
- Mas doutor. Eu estou a dizer a verdade. Faça um teste de ADN e confira se é verdade ou não.
O médico acabou por se aborrecer com elas e foram expulsas do consultório. Cristina olhou para a mãe com tristeza.
- Querida, eu estou bem. Não precisamos mais de vir ao médico. – Depois olhou para trás. – Muito menos para este. Que mal-educado!
- Isto só comprova o que eu lhe disse. O que lhe está a acontecer não é natural.
Voltaram para casa. Cristina conseguiu encontrar uma morada para a Elisabete Andrade. No outro dia de manhã ela iria fazer uma visitinha a essa mulher para saber o que se estava a passar.
Lucy foi novamente com os netos ao parque. Mas desta vez brincou com eles nos baloiços e só não andou nos escorregas porque não era próprio para uma rapariga de saia. Junto ao parque infantil, há um parque de Skate, geralmente cheio de rapazes. Os seus dois netos olhavam-na com curiosidade, vendo-a atrapalhada com um ou outro piropo que lhe mandavam. Um rapaz alto e loiro foi até ao parque infantil para meter conversa com Lucy.
- Olá! – Disse-lhe o rapaz enquanto se encostava ao poste do baloiço. Lucy continuava a empurrar o baloiço da neta.
- Olá. – Respondeu-lhe com pouco entusiasmo.
- Notei que às vezes ficas a olhar ali para as minhas manobras. – O rapaz esboçou um sorriso travesso. – Já alguma vez experimentaste andar de skate.
- Não. Não tenho idade para isso. – Ela ia dando ligeiros empurrões nas costas da menina que se divertia com o balanço. O rapaz riu.
- Como não tens idade? – Ele pousou o skate no chão, colocando um pé em cima deste. – Não me pareces muito mais velha que eu.
- Que idade tens? – Lucy olhou para ele séria. – 16 ou 17?
- Não. Eu tenho 18.
- É quase o mesmo. – Os seus netos olharam-na com curiosidade. – Em vez de andares ai aos pulos em cima dessa geringonça devias estar a estudar em casa. Não me parece que daqui a uns anos isso te ponha a comida na mesa. – O rapaz ficou a olhar para ela. – E devias saber que é impróprio meteres-te com uma mulher acompanhada de duas crianças!
- Credo! Pareces uma velha a falar! Foste criada nalguma escola de freiras?
- Não. – Lucy colocou as mãos nas ancas. – E não te ponhas com insinuações em relação às freiras! São pessoas dedicadas…
- Já percebi! Não queres falar comigo tudo bem! – Ele virou as costas, calcou o pé no skate e apanhando-o e colocando-o debaixo do braço. Indo-se embora, fazendo um círculo com o dedo indicador perto da testa para os amigos, dando um assobio mudo. Para indicar aos amigos que a rapariga não era boa da cabeça.
- Viste querida? – Disse para a neta. – Quando fores crescida e um destes rapagões se meter contigo e tu não quiseres tens que te dar ao respeito. – A rapariguinha riu.




Peço desculpa pela demora deste ultimo post, tenho tido dificuldades em gerir o meu tempo.
Mas não esqueci o meu blog, e claro nem dos meus leitores/as.
Este será o penultimo episódio de "Gosta de Longevidade", o ultimo está para breve, aguardem....
=D





sábado, 17 de abril de 2010

Gotas de Longevidade VII

Depois de ter ido à cabeleireira e ao shoping. Voltou para casa. A filha estava preocupada, sozinha em casa.
- Mãe! – Ela levantou-se e aproximou-se da mulher. – Onde é que esteve este tempo todo?
- Fui dar um passeio e tratar do meu cabelo. Gostas do meu novo corte de cabelo? – Ela devolveu-lhe os óculos de sol. – E obrigada pelo empréstimo. Comprei uns para mim. – Mostrou uns óculos de sol caros que comprara.
- Sim, gosto. Está tudo muito bem. Mas a mãe devia ter em consideração que eu estive este tempo todo preocupada consigo. Eu não sei qual a sua condição de saúde e você andou por ai, às compras, sozinha. E se a mãe se tivesse posto mal?
- Mas como? – Ela sorriu. – Eu estou-me a sentir com muita saúde. – Ela foi até à cozinha buscar um copo de água. – Temos que pensar noutra coisa. Não me pode chamar de mãe com este aspecto. Parece que nem dez anos temos de diferença. O que vão pensar as pessoas? – A filha respirou fundo.
- Muito bem. Posso tratá-la por Lucy então?
- Parece-me muito bem, querida. – Ela aproximou-se da filha e deu-lhe um beijo na testa. – Não tenhas medo por mim. Eu estou bem, a sério. – A filha sorriu, mas a sua expressão demonstrava medo. – Fica feliz por eu estar assim e não presa no andar de cima com a minha cadeira de rodas.
- Eu fico feliz se a mãe estiver feliz. – Disse abraçando a mãe. – Mas eu preocupo-me com a sua saúde, com o seu bem-estar. E temo que todo esse rejuvenescimento possa vir a tornar-se um problema.
- Oh minha querida. – Disse Lucy apertando a filha nos braços.
- Tem a certeza que foi só por causa daquela água que a mãe rejuvenesceu?
- Tenho. Foi a única coisa que tomei a mais que nos outros dias.
Ela estava feliz pela mãe. Mas não menos preocupada que antes. Não a conseguiu levar ao médico. Por isso decidiu procurar pela Elisabete Andrade.
Lucy ajudou os netos nos trabalhos de casa e foi com eles até ao parque nesse dia. Mas à noite, ela teve medo de se deitar. Uma questão passou-lhe pela mente. E se eu continuar a rejuvenescer até à minha inexistência? Sentiu um pouco de ansiedade. Deslocou-se até ao espelho e mirou-se.
- Se continuar a rejuvenescer, pelo menos morro jovem e bonita. – Disse em voz alta. Para si mesma. E foi-se deitar.
No outro dia de manhã, estranhou umas cócegas que sentiu nos cotovelos. Levantou-se muito agilmente. Sentiu longos cabelos e correu para a frente do espelho. Uma explosão de alegria brotou nela. Riu histericamente no quarto. A filha veio a correr, abriu a porta. E uma onda de horror e choque percorreu o seu rosto.
- Mas…O que? – O marido dela apareceu ao lado. Ainda em pijama.
- Oh meu Deus! – Ele também parecia aterrorizado e chocado. Lucy apenas continuava a rir.
- O meu sonho realizou-se! – Ria e, agora também, chorava de felicidade. – Voltei a ter a aparência de alguém com vinte anos. – Ela rodou em frente ao espelho, sorridente. A filha sentiu-se cair e desmaiou, amparada a tempo pelo marido, antes de cair no chão.
Lucy penteou o cabelo liso e castanho claro, comprido. Ela conseguia ver de novo os seus grandes e vivos olhos cor de avelã. Nesse dia concordou ir com a filha ao médico. Não que quisesse, mas porque a filha estava mesmo preocupada e numa pilha de nervos.
- Estás pronta para ir Lucy? – Disse o homem, agora vestido com roupa do dia-a-dia.
- Sabe Carlos, nunca lhe disse isto. Mas eu queria agradecer por ter sido um genro tão bom para mim todos estes anos. – Disse Lucy, no seu tom jovial típico de uma rapariga de vinte anos. – É muito paciente e um excelente marido e pai. É uma dávida de Deus. – O homem sorriu, mas dava para notar um olhar triste nos seus olhos escuros.
- Obrigada Lucy. Mas você sempre foi uma boa sogra, eu só tinha que retribuir aquilo que você foi para mim. – Ela sorriu, percebendo a tristeza dele.
- Não esteja preocupado comigo. A minha filha também se preocupa de mais. – Ela pegou numa bolsinha que tinha comprado no dia anterior. – Vamos?

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Gotas de Longevidade VI

- Mas o que é que se está a passar consigo? – Notava-se agora uma certa preocupação. – O que está a acontecer com a mãe? Isso vai parar?
- Não sei. – Disse a mulher, que agora já não era tão velha como dantes, pelo menos fisicamente. – Mas eu estou a rejuvenescer a sério. E isso é óptimo! – Ela sorriu. A filha abraçou-a, mas estava preocupada.
- Vou levá-la hoje ao médico. – Disse. – Isso não é… alguma coisa está a funcionar mal consigo.
- Vamos amanhã. Eu hoje quero desfrutar da minha juventude.
- Mas mãe… – Ela olhou-a como se implorasse. – Isso foi o que me disse ontem.
- Depois de andar numa cadeira de rodas por tanto tempo e de ter uma má audição e visão, eu quero poder aproveitar os meus sentidos rejuvenescidos. – Ela pegou numa pequena mala antiga. – Não desactivas-te o meu cartão de crédito, pois não?
- Não. Mas a mãe tem que ir visitar um médico. Nós não sabemos qual será o efeito amanhã ou daqui a um mês.
Eu vou à cabeleireira tratar destes cabelos brancos. – Disse enquanto colocava um lenço em redor da cabeça. – Emprestas-me os teus óculos de sol? – A rapariga ficou boquiaberta a olhar para a mãe.
- Mãe…por favor!
- Deduzo que isso seja um sim. – Saiu e não disse uma única palavra. Quando saiu pela porta da rua, respirou o ar fresco da manhã. Era tão inacreditável estar com a aparência de uma mulher de cinquenta anos, que tudo o resto não passavam de pormenores. Meteu a mão na mala, enquanto caminhava lentamente e tirou o frasquinho das gotas milagrosas. Sentiu um poder, que nunca antes tinha sentido. Ela sentia-se capaz de fazer de tudo, agora que estava a vencer o desgaste do tempo. Foi até a uma zona turística da cidade e alugou uma bicicleta.
Era verdade o que diziam. É uma coisa que nunca mais se esquece. Ia pedalando levemente, sentido o vento no rosto e acariciando-lhe o pescoço. Há anos que não se sentia assim. Nova e cheia de energia. E uma lista de coisas que queria fazer, coisas que não se lembrou de fazer enquanto teve tempo.
Enfiou pelo parque e parou junto ao lago. Encostou a bicicleta ao banco, tirou os óculos de sol e sentou-se um pouco a descansar. Os patos nadavam e mergulhavam animadamente. Algumas crianças ao longe deitavam-lhes pedaços de pão. Era uma manhã maravilhosa, até que sentiu um calafrio.
Um homem, vestido com um fato preto, estava sentado do lado oposto ao dela do lago. Observava-a. O cabelo cinzento, penteado para o lado, num rosto esquelético e enrugado. Parecia de uma pessoa nova mas com a pele de alguém muito velho. O corpo magro estava recostado para trás, com as pernas cruzadas num quatro perfeito. Os braços esticados ao longo do encosto do banco. Quando ela encontrou o seu olhar, ele sorriu, formando uma fina linha nos seus lábios. Parecia meio zombeteiro. Ela levantou-se do banco, colocou os óculos de sol e subiu para a bicicleta. Ela queria estar bem longe daquele homem. Ele era-lhe familiar de alguma maneira, mas não sabia de onde. Pedalou rápido, mais à frente abrandou e olhou para trás. Para se certificar que não estava a ser seguida. Respirou de alívio. O homem ficara no parque.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Gotas de Logevidade V

Desceu as escadas ainda com dificuldade, mas pelo seu próprio pé. Uma felicidade cega preencheu toda a sua alma. Foi o mais depressa que conseguiu até à cozinha, para mostrar à família.
- Ahhh! – Gritou Cristina. – A MÃE ESTÁ A ANDAR SOZINHA! – Ela chorou e abraçou a velhinha. – É UM MILAGRE!!! – O homem apareceu no topo das escadas.
- Mas para que estás a gri… – Ficou a olhar embasbacado para a velha. – Mas o que é que fez? – O rosto iluminou-se em felicidade. – Você parece óptima. – E foi abraçar a velhinha.
- Foi a água benta milagrosa. – Disse a velhinha chorando de felicidade. Numa voz que se pronunciava com menos dificuldade e mais agilmente. – Eu disse que ela me ia fazer sentir melhor.
- Meninos venham ver uma coisa cá abaixo. – Chamou Cristina. Os dois netos apareceram no cimo das escadas, surpresos. E começaram a correr em direcção á avó.
- Resultou! – Gritou a menina. – O que a Elisabete disse era verdade! – O rapaz estava a lado dela a olhar maravilhado para a avó. Ela abraçou os netos com força.
- Temos que visitar o seu médico! – Cristina disse entusiasmada. – O que vai ele dizer quando vir isto. – Ela estava frenética. – Depois de nos ter dito que a mãe não ia voltar a andar.
- Hoje não! – Disse a senhora fazendo uma lista mental de todas as coisas que queria fazer. – Tenho muito que aproveitar. – A filha não ficou satisfeita, embora estivesse feliz pela mãe. Uma preocupação paralela apoderou-se dela
Foi um momento como já há muito tempo não tinham em família. Nesse dia todos saíram num passeio, almoçaram e jantaram fora. Foram ao cinema, passaram pelo centro comercial e ainda tiveram tempo de levar a senhora a visitar algumas amigas. Que para seu espanto, algumas tinham falecido, outras estavam internadas… todas tinham o peso da idade. Por isso desistiu de as visitar, para que elas não se sentissem mais mal.
Mas independentemente disso, ela quis aproveitar o tempo com a família, sobretudo com os netos. A velhinha não se lembrava de quando foi a ultima vez que se divertiu tanto. Fartou-se de contar histórias aos netos, de brincar com eles. A filha falou com ela sobre algumas mudanças que tinham ocorrido na vida profissional dela, que nem se tinha apercebido. O homem contou alguns planos que tinham para se mudar para uma casa mais perto dos empregos dele e da mulher.
À noite a velhinha não tomou mais nenhuma gota. Lembrando-se do conselho de que não devia tomar mais de uma gota por mês. Só no último dia tinha tomado umas dez. Um arrepio percorreu-lhe a espinha. Mas ignorou, ficou a olhar para o seu reflexo levemente rejuvenescido por um bocado e foi-se deitar com um sorriso nos lábios.
No outro dia de manhã, ela sentia-se bem. Tinha repousado muito bem durante a noite, não tinha qualquer tipo de dores. Abriu os olhos e levantou-se da cama. Quando foi olhar-se ao espelho teve o choque da sua vida. Ela olhava para o reflexo de uma mulher que aparentava ter cinquenta anos. Era ela com cinquenta anos. As rugas mais disfarçadas. Os olhos castanhos avelã. Um perfil magro e elegante. Tudo exactamente como ela se lembrava na altura, excepto algumas mechas de cabelo branco misturado com cabelo castanho claro. Ela correu para a mesa-de-cabeceira. Era cedo, provavelmente ainda ninguém se tinha levantado. Ela estava muito feliz, mas não sabia como contar a novidade à família. Eles não iam acreditar que era ela. Ou talvez até fossem, afinal a filha dela devia lembrar-se do aspecto da mãe há uns anos atrás.
Não sabia se havia de estar entusiasmada ou com medo. Estas mudanças de contranatura agitavam parte das suas crenças religiosas. O padre Marcelino não iria ver aquilo com bons olhos. Possivelmente chamar-lhe-ia de demónio ou assim. Mas o pior era uma questão que pairava sobre si. Quando é que o processo de rejuvenescimento iria parar?
Quando ouviu a primeira pancada na porta perguntou quem era. Era a filha, por isso pediu para que entrasse no quarto e que se mantivesse calma. A filha assim o fez, nervosamente. Quando encarou a mãe, a sua expressão transformou-se num misto de choque e felicidade.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Gotas de Longevidade IV

hÀ noite, quando a senhora estava deitada na cama. Pediu à rapariga para lhe deitar uma gota da água rejuvenescedora no copo. Ela observou atentamente.
- Mãe, posso lhe perguntar para que serve esta água benta milagrosa? – A rapariga agitou a água com a colher de maneira a que a gota ficasse bem diluída.
- Oh filha. Ela é mesmo isso, milagrosa. Vai-me fazer sentir melhor. – E sorriu, iluminando todo o seu rosto. Ela parecia tão feliz que assustou a filha. A mulher olhou para ela com preocupação.
- Mãe, eu não a vou deixar beber isto. – E começou a ir em direcção à porta, com o copo de água numa mão e o conta-gotas noutra.
- Porque não? – Disse a senhora já com alguma aflição.
- Diga-me exactamente o que este frasco contém! – A mulher ficou junto à porta olhando para a mãe, com uma expressão rígida.
- Eu juro-te pela saúde do que me é mais querido que isso é apenas água benta! – A senhora estava agora a ficar nervosa.
- Então isso quer dizer que nada de mal me acontecerá se eu beber este copo de água. – A mulher estava desafiadora.
- Não acontecerá nada. Talvez te sintas um pouco mais bem disposta e com a alma mais leve. – Disse em tom brincalhão. – Filha! – A senhora acalmou-se e tentou falar serenamente, numa tentativa de transmitir segurança. – Se achas que eu ia beber algum veneno ou assim, é porque não me conheces bem.
A mulher aproximou-se dela e sentou-se à beira da cama, com os olhos húmidos.
- Mãe, eu temo por si. Eu gosto muito de si e esforço-me para lhe dar o maior conforto possível. Mas ultimamente parece que isso não tem sido o suficiente. – Lágrimas começaram, a escorrer-lhe pelo rosto. – Eu sei que a mãe tem cada vez mais dores e que lhe custa mover-se.
- Minha querida! – A senhora disse emocionada, limpando-lhe as lágrimas. – Mas tu já me dás tudo. – Pegou na mão da filha para a beijar. – Como é que eu poderia por fim à minha vida, amando-vos como amo?
- Eu não sei mãe. As pessoas quando sentem dores são capazes das coisas mais disparatadas…
- Cristina Sofia! Tu estás-me a querer dizer que tens medo que eu seja como a tonta da Cremilde Sousa, que se tentou suicidar porque não aguentava as dores na coluna? – Cristina corou e envergonhadamente acenou com a cabeça.
- Mais ou menos…
- Então força! Bebe esse copo de água e comprova que o que te estou a dizer é verdade. Isso é apenas água benzida pelo Papa. – Cristina pegou no copo e levou aos lábios, bebendo toda a água no seu interior. A senhora não moveu nem um dedo para impedir que a filha bebesse tudo. – Então? Soube-te bem?
- Ainda não sei, se fosse veneno podia levar algum tempo a surtir efeito! – Disse divertida. A senhora riu.
- Vá, põe lá isso num copo para mim… – E olhou-a séria. – Mas só uma gota, não mais.
- Tem a certeza que isto serve para “pôr a alma mais leve”. – Disse, com ênfase em “alma mais leve”, enquanto agitava a água com a colher.
- É o que vou descobrir. – Respondeu a senhora enquanto pegava no copo. Bebendo aos golinhos a água.
Nessa noite dormiu profundamente, mas nada aconteceu. No outro dia de manhã, parecia estar na mesma. A senhora ficou desesperada. Cristina confiou na mãe para lhe deixar o conta-gotas em cima da mesinha de cabeceira ao lado de uma garrafa de água. E nessa noite, voltou a colocar outra gota num copo de água, bebeu e dormiu. Fez isso durante a semana toda. Mas nada pareceu mudar. Continuava velha e enrugada. O que antes era desespero, tornou-se numa agonia, num sentimento de que fora traída pela esperança de algo aparentemente impossível. Nessa outra noite colocou mais de uma gota, acabando por colocar duas gotas de água rejuvenescedora no copo. Dormiu mais pesadamente que nos outros dias.
No outro dia de manhã, ela sentiu menos esforço para se sentar na cama. As pernas não lhe pesavam e as suas mãos pareciam menos enrugadas. Uma onda de felicidade preencheu-a. Tentou levantar-se da cama sem ajuda e conseguiu. Foi em direcção ao espelho e quase que desmaiou ao olhar para o seu reflexo. Parecia que tinha voltado aos setenta anos. Embora estivesse ainda enrugada, os olhos não eram tão claros, haviam mais vestígios dos seus olhos castanhos avelã.



sábado, 6 de março de 2010

Gotas de Longevidade III

A rapariguinha abriu os seus olhos de surpresa, sorrindo e olhou para o irmão.
- Era o avô?
- Não, minha querida. Não era o avô. – Ela parou de sorrir. Meio que perdida na recordação. Mas continuou. - Eu fiquei muito contente e procurei saber mais coisas sobre ele. Mas a rapariga parou de chorar e olhou-me séria. E perguntou-me o quanto é que eu dava para me manter jovem para o resto da minha vida. Achei a pergunta um pouco ameaçadora e levantei-me para lhe virar as costas e ir embora. Mas ela segurou-me pelo braço e perguntou-me se eu dava valor à minha beleza. Eu disse-lhe que sim, mas que se ela estivesse a fazer-me algum tipo de ameaça que se ia sair mal. Ela pediu desculpas, que eu estava a interpreta-la mal. Então ela contou-me que a família dela tinha descoberto um local em que a água rejuvenescia as pessoas. Era uma água milagrosa. Eu achei interessante e perguntei-lhe onde. Mas ela não quis dizer. Disse para que eu me informasse sobre a família dela e que no dia seguinte fosse ter com ela aquele mesmo sitio.
- O que quer dizer revunescia? – Perguntou a menina.
- É rejuvenescia. Quer dizer tornar mais novo. – Disse o rapaz. – Deixa ouvir a história da avó. – A velhota sorriu.
- Informei-me com as minhas amigas. Parece que os avós da rapariga desapareceram misteriosamente, mas que um casal da família, que tinha casado há pouco tempo, muito jovem, tinha ido morar com ela. Parecia que já há algum tempo que os antepassados da rapariga desapareciam misteriosamente, e que apareciam familiares jovens de outros locais. Eu associei logo à água rejuvenescedora. Então no outro dia fui ter com ela ao local combinado. Ela estava sentada no mesmo sítio e ficou a olhar serenamente para mim. Disse-lhe que já me tinha informado e perguntei-lhe o que aconteceu aos avós dela. Ela disse que tinham bebido a água e que ainda hoje estavam vivos e de boa saúde. Eu perguntei-lhe porque me contara aquilo. E ela disse que tinha uma proposta para me fazer. Que se eu recusasse o pedido de casamento do rapaz ela dava-me um frasco de água benta milagrosa. A água que rejuvenescia. Eu pensei por uns momentos e aceitei. Afinal, pedidos de casamento era o que eu tinha mais, principalmente depois de ter feito dezasseis anos. Só que ainda não tinha aceitado nenhum por causa do meu pai. Ela disse para que eu não me esquecesse do nome dela. Elisabete Andrade, depois de casar com o rapaz ia ficar Andrade. E disse-me que me enviava o frasco no dia em que eu fizesse oitenta e oito anos, a idade em que a água começa a fazer efeito. Caso seja ingerida antes, não faz qualquer diferença, é como se fosse água normal. Então eu aceitei e mais tarde recusei o pedido de casamento do rapaz. O meu pai ficou zangado, porque era dos rapazes mais ricos da cidade. Mas o meu pai gostava demasiado de mim para me obrigar a casar com alguém que eu não queria.
- A avó fez oitenta e oito anos ontem. – Disse o rapaz.
- Pois fiz. – Ela disse sorridente, aproximando-se do frasco.
- A Elisabete cumpriu a parte dela? – Perguntou a menina.
- Sim. – A velhinha disse enquanto segurava o frasco.
- É essa a água milagrosa? – A menina levantou-se a aproximou-se da avó, ficando a olhar para o frasco.
- É sim.
- Quando é que vai tomar? – Perguntou o rapaz, que estava do outro lado da avó a olhar para o frasco.
- Hoje à noite vou colocar uma gotinha num copo de água e beber.
- É só isso? – Perguntou a menina. – Não é pouco?
- Uma gota rejuvenesce um ano. – A velhinha disse. – E só faz efeito em pessoas que já tenham sido velhas. – Deu-se uma pancada leve na porta.
- Hora do jantar. – Disse a mulher que antes tinha levado os miúdos ao parque. Pegou na cadeira da velhinha e levou até a sala de jantar.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Gotas de Longevidade II

Perto da hora do jantar, a mulher e as crianças voltaram. A velhota pode ouvir as duas crianças a subir as escadas. E um bater na porta. Um rapaz com cerca de sete anos, de cabelo preto muito brilhante, espreitou.
- Olá avó! – Ele disse timidamente, ainda por detrás da porta.
- Venham cá. – Disse a velhinha, com o mesmo sorriso que tinha invadido o seu rosto nessa tarde. Uma menina, de quatro anos, acompanhou o irmão. Ela tinha os olhos castanhos amendoados, e o cabelo comprido num ondulado escuro. – Querem ouvir uma história da vossa velha avó? – A menina, que antes estava séria e um pouco temerosa, sorriu e acenou com a cabeça num pequeno sorriso.
- Sim. – Disse o rapaz. Sentando-se aos pés da avó de pernas cruzadas, em cima do tapete antigo. A menina imitou o irmão, sentando-se ao seu lado. A senhora deu uma olhada ao frasco e sorriu com mais intensidade.
- Tinha cerca de dezoito anos. Era a moça mais bonita da cidade. – Ela apontou em direcção ao velho guarda-fato. – Querido. Tira uma caixa que está logo detrás da primeira porta. – O rapaz foi ao guarda-fato e pegou na caixa, que logo foi entregar à avó. A velhinha tirou algumas das suas fotografias que estavam lá dentro, mostrando aos netos. – Quase todos os rapazes tinham uma paixoneta por mim e todas as raparigas me invejavam. - E mostrou uma fotografia dela, onde segurava um cesto de flores. - Esta era eu.
- Oh. – Disse a menina. – Era muito bonita! – A menina observava com espanto e admiração a foto da avó quando era nova. A avó sentiu uma pontada quando a neta disse: ERA muito bonita. Mas voltou a olhar para o frasco, esquecendo a dor que a velhice lhe trazia.
- Um dia. Eu e mais duas amigas. Essas raparigas com o chapéu grande, nessa fotografia. – Apontou para outra fotografia. – A do cabelo mais escuro era minha prima, já era mãe de três meninas. Fomos fazer um piquenique, que há muito planeávamos, acabando depois por passear pelo jardim. Onde encontrámos uma rapariga nova, da mesma idade que eu tinha na altura, a chorar. Era uma rapariga que conhecíamos de vista, por frequentar os mesmos locais que nós. Mas nenhuma delas fez caso e continuou a caminhar. Eu parei e fui até à rapariga. – A velhinha olhou através da janela, para o céu que estava a escurecer. – Era uma das raparigas menos formosas, provavelmente uma das que mais inveja tinha da minha beleza. Mas chorava tanto que eu senti necessidade de saber o que ela tinha. – A velhinha calou-se pensativamente.
- Porque é que a menina chorava, avó? – Perguntou a rapariguinha.
- Ela esteve um pouco relutante em me contar. Mas eu insisti e acabou por me dizer. Ela gostava muito de um rapaz, que infelizmente era muito rico. Eles eram amigos, mas o rapaz procurava casar com uma moça bonita e não com alguém como a rapariga. Eu perguntei-lhe como é que ela sabia disso. E ela disse que lhe tinha confessado os seus sentimentos, embora não fosse próprio da época. Ela gostava tanto dele, que arriscou. Ele disse-lhe que também gostava muito dela, mas que os pais o estavam a pressionar para pedir em casamento uma outra moça, muito mais bela e filha de gente com dinheiro. A rapariga também tinha dinheiro, tanto que se a outra o recusasse em casamento, ele teria que a pedir em casamento a ela.
- Mas ele amava-a? – Perguntou a menina.
- Ele tinha-lhe dito que sim. Mas que só podia casar com ela se a outra recusasse. Eu senti pena da rapariga. E disse-lhe para ter esperança. E perguntei-lhe se ele conhecia a outra rapariga, se já alguma vez tinham falado. Ela disse que não, que nunca se tinham falado. Apenas se tinham visto uma vez ou outra. Tentando com que ela parasse de chorar, disse-lhe que era possível a outra rapariga lhe ia recusar o pedido de casamento, pois nunca tinham falado. – A velhinha aproximou a cadeira de rodas da cama. Ficando de frente para as fotografias que os netos seguravam. – Então ela disse que isso poderia acontecer. Ela disse-me que a rapariga, a quem o rapaz de que gostava ia pedir em casamento era eu.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Gotas de Longevidade I

- Mãe, nós vamos até ao parque. Os miúdos querem ir andar de baloiço. Nós voltamos à hora do jantar. – Uma mulher disse junto à porta Para uma outra mulher já de idade, que estava sentada numa cadeira de rodas. Esta não lhe respondeu, manteve-se quieta, olhando para a janela. Ouviu-se a porta fechar e um pouco mais tarde a porta da rua do andar de baixo também bateu. A idosa moveu a sua cadeira de rodas, de modo a  ter uma boa visibilidade da rua. Duas crianças corriam de um lado para o outro, mas sempre perto da mãe. Iam-se afastandom na rua, engolidas pelo arvoredo que se erguia, moldando a longa rua, escondedno o caminho a quem quisesse observá-lo.
O olhar triste da idosa era demasiado profundo. Ela respirava com dificuldade e tinha a mão pousada sob o peito. Voltou a deslocar a cadeira de rodas e parou em frente a um grande espelho antigo. Ficou por uns tempos, imóvel, a mirar-se. Absorta em todo o seu reflexo, perdida no desgosto do que observava. Desfeita de toda a esperança que mantivera enquanto jovem, da beleza eterna.
Cada ruga era uma prova dos muitos anos que lhe pesavam, testemunhas duma vida experiente e quase esgotada.. Os olhos, que outrora tinham sido de um castanho avelã, muito vivos, tinham agora pequenas manchas azuladas, esbranquiçadas. Necessitavam  de uns óculos de lentes grossas para ver alguma coisa. Uma lágrima caiu. E a senhora fechou os olhos. Desviou a cadeira de rodas e voltou para o mesmo sítio onde estava anteriormente.
Alguém bateu na porta com um pouco de força, a mulher de idade também já não tinha uma audição boa. Mas embora tenha ouvido a batida, ela não se mexeu, nem respondeu. Um homem com cerca de quarenta anos entrou.
- Olhe, chegou um embrulho para si há bocado. – Ele aproximou-se da senhora. – Parece ser um presente. – O homem sorriu. A velhota girou levemente o pescoço e ficou a encarar o presente, surpresa. Estava embrulhado num papel de mercearia, como se fazia antigamente. – Não o quer abrir? – Perguntou meigamente o homem, enquanto o colocava no colo da velhota. Ela com as mãos trémulas desmanchou o nó simples do laçarote e desdobrou a folha que envolvia uma caixa pequena. O homem pegou nos restos de papel.
- Vou deitar isto para o lixo. – A velhota abriu a caixa e um cartão caiu. – Eu já o apanho. Se quiser também lho posso ler. – O homem saiu do quarto. A velhota olhou para dentro da caixinha, lá dentro estava um pequeno frasco conta-gotas. O homem voltou a entrar no quarto.
- Ora vamos lá ler este cartão. – A velhota encarou-o, meio que ansiosa por saber o que lá estava escrito. – Para a minha querida Lucy. A qual nunca esqueci. Aqui está o que lhe prometi há muitos anos atrás. Com muito carinho Elisabete Andrade. – O homem olhou para a velhota. – Sabe quem é? – A velhota sorriu e acenou que sim com a cabeça. Os olhos humedeceram-se e a sua respiração acelerou. – Oh! Tenha calma. – O homem riu, passando o braço em redor da velhota. – Alguma velha amiga?
- Não. Uma velha promessa realizada. – Disse a velha, com a sua voz fraca. Sorrindo e apertando o frasco junto ao coração.
- O que é isso? – O homem perguntou.
- É água benta milagrosa. – Disse a velhinha. – Benzida directamente pelo papa. – Ela sorriu. – Traz-me água. – O homem saiu e quando voltou, ele trouxe um copo de água. – Lê-me o que está escrito no frasco.
- São umas letras bem pequenas. – Ele estreitou os olhos para ler melhor. – Colocar uma gota apenas em 0, 33 cl de água. Para beber antes de dormir. Cada gota vale um ano. Não se pode tomar mais de uma gota por mês. Para que é isto?
- Isto é para ajudar a curar a velhice. – A velhinha estava claramente feliz. O homem sorriu carinhosamente.
- Mas a velhice assenta-lhe tão bem. – Ele disse. – Tem a certeza que isto é só água?
- Água benta milagrosa. – Repetiu a velhota, desta vez com um sorriso enrugado e permanente no seu rosto.
- Muito bem. – Ele disse. – Estou lá em baixo se precisar de alguma coisa. – O homem beijou-lhe a testa e saiu do quarto.
A velha permaneceu a olhar para o frasco. Sorrindo.