A rapariguinha abriu os seus olhos de surpresa, sorrindo e olhou para o irmão.
- Era o avô?
- Não, minha querida. Não era o avô. – Ela parou de sorrir. Meio que perdida na recordação. Mas continuou. - Eu fiquei muito contente e procurei saber mais coisas sobre ele. Mas a rapariga parou de chorar e olhou-me séria. E perguntou-me o quanto é que eu dava para me manter jovem para o resto da minha vida. Achei a pergunta um pouco ameaçadora e levantei-me para lhe virar as costas e ir embora. Mas ela segurou-me pelo braço e perguntou-me se eu dava valor à minha beleza. Eu disse-lhe que sim, mas que se ela estivesse a fazer-me algum tipo de ameaça que se ia sair mal. Ela pediu desculpas, que eu estava a interpreta-la mal. Então ela contou-me que a família dela tinha descoberto um local em que a água rejuvenescia as pessoas. Era uma água milagrosa. Eu achei interessante e perguntei-lhe onde. Mas ela não quis dizer. Disse para que eu me informasse sobre a família dela e que no dia seguinte fosse ter com ela aquele mesmo sitio.
- O que quer dizer revunescia? – Perguntou a menina.
- É rejuvenescia. Quer dizer tornar mais novo. – Disse o rapaz. – Deixa ouvir a história da avó. – A velhota sorriu.
- Informei-me com as minhas amigas. Parece que os avós da rapariga desapareceram misteriosamente, mas que um casal da família, que tinha casado há pouco tempo, muito jovem, tinha ido morar com ela. Parecia que já há algum tempo que os antepassados da rapariga desapareciam misteriosamente, e que apareciam familiares jovens de outros locais. Eu associei logo à água rejuvenescedora. Então no outro dia fui ter com ela ao local combinado. Ela estava sentada no mesmo sítio e ficou a olhar serenamente para mim. Disse-lhe que já me tinha informado e perguntei-lhe o que aconteceu aos avós dela. Ela disse que tinham bebido a água e que ainda hoje estavam vivos e de boa saúde. Eu perguntei-lhe porque me contara aquilo. E ela disse que tinha uma proposta para me fazer. Que se eu recusasse o pedido de casamento do rapaz ela dava-me um frasco de água benta milagrosa. A água que rejuvenescia. Eu pensei por uns momentos e aceitei. Afinal, pedidos de casamento era o que eu tinha mais, principalmente depois de ter feito dezasseis anos. Só que ainda não tinha aceitado nenhum por causa do meu pai. Ela disse para que eu não me esquecesse do nome dela. Elisabete Andrade, depois de casar com o rapaz ia ficar Andrade. E disse-me que me enviava o frasco no dia em que eu fizesse oitenta e oito anos, a idade em que a água começa a fazer efeito. Caso seja ingerida antes, não faz qualquer diferença, é como se fosse água normal. Então eu aceitei e mais tarde recusei o pedido de casamento do rapaz. O meu pai ficou zangado, porque era dos rapazes mais ricos da cidade. Mas o meu pai gostava demasiado de mim para me obrigar a casar com alguém que eu não queria.
- A avó fez oitenta e oito anos ontem. – Disse o rapaz.
- Pois fiz. – Ela disse sorridente, aproximando-se do frasco.
- A Elisabete cumpriu a parte dela? – Perguntou a menina.
- Sim. – A velhinha disse enquanto segurava o frasco.
- É essa a água milagrosa? – A menina levantou-se a aproximou-se da avó, ficando a olhar para o frasco.
- É sim.
- Quando é que vai tomar? – Perguntou o rapaz, que estava do outro lado da avó a olhar para o frasco.
- Hoje à noite vou colocar uma gotinha num copo de água e beber.
- É só isso? – Perguntou a menina. – Não é pouco?
- Uma gota rejuvenesce um ano. – A velhinha disse. – E só faz efeito em pessoas que já tenham sido velhas. – Deu-se uma pancada leve na porta.
- Hora do jantar. – Disse a mulher que antes tinha levado os miúdos ao parque. Pegou na cadeira da velhinha e levou até a sala de jantar.
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