sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Gotas de Longevidade II

Perto da hora do jantar, a mulher e as crianças voltaram. A velhota pode ouvir as duas crianças a subir as escadas. E um bater na porta. Um rapaz com cerca de sete anos, de cabelo preto muito brilhante, espreitou.
- Olá avó! – Ele disse timidamente, ainda por detrás da porta.
- Venham cá. – Disse a velhinha, com o mesmo sorriso que tinha invadido o seu rosto nessa tarde. Uma menina, de quatro anos, acompanhou o irmão. Ela tinha os olhos castanhos amendoados, e o cabelo comprido num ondulado escuro. – Querem ouvir uma história da vossa velha avó? – A menina, que antes estava séria e um pouco temerosa, sorriu e acenou com a cabeça num pequeno sorriso.
- Sim. – Disse o rapaz. Sentando-se aos pés da avó de pernas cruzadas, em cima do tapete antigo. A menina imitou o irmão, sentando-se ao seu lado. A senhora deu uma olhada ao frasco e sorriu com mais intensidade.
- Tinha cerca de dezoito anos. Era a moça mais bonita da cidade. – Ela apontou em direcção ao velho guarda-fato. – Querido. Tira uma caixa que está logo detrás da primeira porta. – O rapaz foi ao guarda-fato e pegou na caixa, que logo foi entregar à avó. A velhinha tirou algumas das suas fotografias que estavam lá dentro, mostrando aos netos. – Quase todos os rapazes tinham uma paixoneta por mim e todas as raparigas me invejavam. - E mostrou uma fotografia dela, onde segurava um cesto de flores. - Esta era eu.
- Oh. – Disse a menina. – Era muito bonita! – A menina observava com espanto e admiração a foto da avó quando era nova. A avó sentiu uma pontada quando a neta disse: ERA muito bonita. Mas voltou a olhar para o frasco, esquecendo a dor que a velhice lhe trazia.
- Um dia. Eu e mais duas amigas. Essas raparigas com o chapéu grande, nessa fotografia. – Apontou para outra fotografia. – A do cabelo mais escuro era minha prima, já era mãe de três meninas. Fomos fazer um piquenique, que há muito planeávamos, acabando depois por passear pelo jardim. Onde encontrámos uma rapariga nova, da mesma idade que eu tinha na altura, a chorar. Era uma rapariga que conhecíamos de vista, por frequentar os mesmos locais que nós. Mas nenhuma delas fez caso e continuou a caminhar. Eu parei e fui até à rapariga. – A velhinha olhou através da janela, para o céu que estava a escurecer. – Era uma das raparigas menos formosas, provavelmente uma das que mais inveja tinha da minha beleza. Mas chorava tanto que eu senti necessidade de saber o que ela tinha. – A velhinha calou-se pensativamente.
- Porque é que a menina chorava, avó? – Perguntou a rapariguinha.
- Ela esteve um pouco relutante em me contar. Mas eu insisti e acabou por me dizer. Ela gostava muito de um rapaz, que infelizmente era muito rico. Eles eram amigos, mas o rapaz procurava casar com uma moça bonita e não com alguém como a rapariga. Eu perguntei-lhe como é que ela sabia disso. E ela disse que lhe tinha confessado os seus sentimentos, embora não fosse próprio da época. Ela gostava tanto dele, que arriscou. Ele disse-lhe que também gostava muito dela, mas que os pais o estavam a pressionar para pedir em casamento uma outra moça, muito mais bela e filha de gente com dinheiro. A rapariga também tinha dinheiro, tanto que se a outra o recusasse em casamento, ele teria que a pedir em casamento a ela.
- Mas ele amava-a? – Perguntou a menina.
- Ele tinha-lhe dito que sim. Mas que só podia casar com ela se a outra recusasse. Eu senti pena da rapariga. E disse-lhe para ter esperança. E perguntei-lhe se ele conhecia a outra rapariga, se já alguma vez tinham falado. Ela disse que não, que nunca se tinham falado. Apenas se tinham visto uma vez ou outra. Tentando com que ela parasse de chorar, disse-lhe que era possível a outra rapariga lhe ia recusar o pedido de casamento, pois nunca tinham falado. – A velhinha aproximou a cadeira de rodas da cama. Ficando de frente para as fotografias que os netos seguravam. – Então ela disse que isso poderia acontecer. Ela disse-me que a rapariga, a quem o rapaz de que gostava ia pedir em casamento era eu.

2 comentários:

  1. Nossa, como o destino consegue ser tão minuncioso? O.O'Ele sempre nos impressiona com coisas assim!
    Etou adorando!, já estava com saudade das suas "séries"!
    Esperarei anciosa os próximos1
    bjks
    ╬♥╬

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  2. Era para ser um conto, mas dividi em várias pequenas partes para não ser tão massador de ler. =D
    Obgd

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