A noite estava mais fria. Daniel teve que voltar atrás para apanhar um casaco. Havia algumas nuvens no céu, mas ainda se podiam ver estrelas. A Lua estava escondida por detrás de uma nuvem escura, mas nem assim os seus raios de luz pareciam desaparecer.
A caminho da casa da Maria ele estava animado. Ela tinha acabado de lhe telefonar porque precisava falar com ele. Embora ela estivesse atormentada, recorreu à sua ajuda e isso fazia-o sentir-se útil. Mas ele sabia que ela podia estar doente, que os sonhos que a atormentavam não eram um bom sinal. Ele entristeceu-se com a ideia. Quando estava perto da casa, viu as luzes acesas do andar de cima. As do quarto que raramente era usado. Deduziu que fosse onde os pais dela iam dormir. Pegou no seu telemóvel e mandou o toque a Maria.
A grande nuvem que bloqueava a visão da lua moveu-se, deixando os seus raios incidirem directamente na quinta. Silenciosamente pode ver Maria a sair pela porta principal, devagarinho para que ao pisar as ervas secas não fizesse muito barulho. Ao alcançar uma vereda, acelerou o passo. Passou junto a Daniel e puxou pelo braço, em direcção ao outro lado da garagem, de maneira a que se alguém espreitasse pelas janelas da casa, ninguém os visse. Daniel ficou a olhar para ela. Maria deu-lhe um abraço e começou a chorar. Ele passou suavemente a mão pela cabeça dela, envolvendo-a nos seus braços e fazendo-lhe carinhosamente festas.
- Está tudo bem! – Ele sussurrou. Maria sentiu-se levemente confortada.
- Desculpa. Mas isto é muito grave. – Ela disse limpando os olhos. – Eu ainda não sei como contar à Tatiana.
- Talvez não seja preciso.
- Como assim? – Daniel sentiu-se embaraçado. E disse-lhe a primeira coisa que lhe veio à cabeça. - Talvez chegue dizer-lhe para passar mais tempo com os gémeos.
- Não. Isso não chega. Eu vou mesmo ter que lhe contar tudo. – Daniel reparou então que Maria estava de pijama. Pensou numa piada, mas achou que não era o momento apropriado. Ela começou a andar de um lado para o outro, como se estivesse impaciente. – Ainda não consegui pensar numa maneira de lhe dizer isto, sem que ela fique com medo de mim.
- Fala a sério. – Daniel riu para Maria. – A Tatiana jamais ia ficar com medo da melhor amiga, só porque ela tem uns sonhos esquisitos. – Maria parou, de uma maneira em que ficou quase de frente para os raios luminosos da lua, o que fez com que os seus olhos verdes brilhassem. Daniel engoliu. Ela ficava tão bonita à luz da Lua, quase que parecia um ser mágico. Ele desviou o olhar dela.
- O que foi? – Maria perguntou surpresa com a rapidez com que Daniel desviou o olhar.
- Pareceu-me ouvir qualquer coisa. – Ele disfarçou. – Mas não é nada. – Ela ficou a olhar para ele, com os braços cruzados.
- Já contas-te alguma coisa à Tatiana?
- Não. Eu não lhe contei nada. – Maria não pareceu convencida. Mas descruzou os braços e encostou-se à parede da garagem. Daniel foi para o seu lado. Ficaram os dois a olhar para as estrelas por um momento. Ela sentiu frio, e abraçou-se. Daniel notou e tirou o seu casaco para o colocar em redor dos ombros dela. Ela sorriu-lhe.
- Não tens frio?
- Não. – Ele sorriu também.
- Já se deitaram todos. – Ela disse. – Estavam cansados da viagem.
- E tu não estás?
- Estou, mas não quero dormir. – Ela vestiu o casaco de Daniel e puxou o ziper até ao cimo. – Não posso sonhar outra vez com o acidente. É demasiado horrível. – Daniel ficou pensativo. - Talvez se tivesses alguém a teu lado ajudasse.
- Sim. Quando a avó sabe dos meus pesadelos ela dorme comigo e sempre que fico agitada ela acorda-me e acabo por sonhar só parte do acidente. Mas não me ajuda muito.
- A tua avó não sabe deste último? – Maria abanou a cabeça. Daniel ficou pensativo. Depois, voltou a olhar para ela.
- Eu não lhe posso contar. Ela faz parecer que acha os gémeos umas pestes, mas no fundo ela gosta muito deles. São quase como família. Ia ser muito doloroso. – Ela olhou para uma pedra que brilhava à luz do luar no chão. – Eu acho que a minha avó ia acabar por contar tudo à Teresa. E isso não ia ser nada bom para nós.
- Mas podiam evitar que o miúdo desaparecesse.
- Nunca consegui evitar os outros desaparecimentos. – Maria agachou-se e apanhou a pedra. – Nem o do meu avô. E olha que eu fiquei o tempo todo com ele.
- Como assim? Viste-o a desaparecer?
- Não. Fui à cozinha beber água, deixei-o na sala a ver televisão e quando voltei ele tinha desaparecido.
- Não ouviste nada?
- O meu avô tinha muita falta de ouvido. A televisão estava sempre muito alta. Se ele gritou ou pediu ajuda eu não consegui ouvir. – Maria atirou a pedra para longe. Ficaram em silêncio por um bocado.
- Não há nada a fazer a estas horas. – Daniel quebrou o silêncio. – Amanhã vamos falar com a Tatiana. E é melhor irmos dormir. Amanhã venho cá ter de manhã.
- Sim. – Maria tirou o casaco e deu um beijo na bochecha de Daniel. – Até amanhã!
- Dorme bem. – Ele afastou-se.
Quando já estava a distanciar-se olhou para trás a tempo de ver Maria a entrar em casa. Ele respirou fundo e olhou para o céu. Continuou a andar. Quando chegou aos portões da entrada da quinta, passou um dos vizinhos de Maria e da avó Medina numa bicicleta.
- Boa noite! – Cumprimentou o homem, de bochechas demasiado vermelhas que até à luz dos candeeiros da rua se viam.
- Boa noite. – Daniel respondeu.
- Veio de casa da velha Medeiros?
- Sim. Elas já voltaram de Lisboa. – Daniel encaminhou-se para o lado que ia dar à aldeia.
- Você anda de olho na neta dela. – Disse o homem revelando um estado leve de embriaguez, num tom de gozo.
- Tenha cuidado ao ir para casa. Não é seguro ir de bicicleta à noite nesse estado por essa estrada fora. – O homem riu e Daniel afastou-se, indo em direcção a casa. A aldeia era visível do portão, ficava relativamente perto. Mas o homem bêbado ainda tinha que percorrer cerca de um quilómetro ou dois.
Mell dells!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderEliminarEu to anciosa agora...shusahasuahsusahsausahsau
Seus textos estão dcada vez melhores, não nem o que dizer, fabuloso!
Continue sempre assim, você já é um ídolo pra mim *.*
(to te colocando nos blogs bons na lateral do meu...bjkz)
Parabéns! Está ficando cada vez melhor, agora que estou em um período de férias voltei para dar uma olhada no seu blog e me surpreendi (ou não porque eu já sabia da qualidade dos seus contos). Muito BOM!!!
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