- Já estava a morrer de saudades. – Uma rapariga, muito morena, disse, apertando Maria intensamente. – Eu nem acredito que estás aqui. Vais voltar?
- Não. Ainda não estou em condições para voltar. – Maria disse, ainda abraçada à rapariga. – Eu também estava a morrer de saudades vossas! – E juntou-se uma outra rapariga ao abraço. Uma rapariga com muitas sardas e de cabelo alaranjado.
- Como foi a Republica Dominicana? – Perguntou à rapariga muito morena.
- Vocês têm que lá ir. Aquilo é lindo. E as praias…um autêntico paraíso. – A rapariga passou a mão pelos cabelos castanhos-escuros, de modo a tirar algumas mechas da franja comprida do rosto. – Simplesmente maravilhoso.
- Eu já não posso ouvir falar mais da Republica Dominicana! – Disse aborrecidamente Soraia, a rapariga do cabelo alaranjado. – Queres vir à praia?
- Eu não sei se deva. Acho que os meus pais planearam coisas… - Leonor apareceu na sala de estar, onde as três raparigas estavam sentadas no grande sofá de pele.
- Importa-se que levemos a Maria até à praia? – Perguntou Raquel. – Já há muito tempo que não estamos com ela. E ia ser só da parte da manhã, à hora de almoço já a tínhamos trazido de volta. – Ela apontou para a Maria. – E sinceramente está a precisar de dar um mergulho na água salgada.
- Oh! – Leonor surpreendeu-se. – Penso que não há problema. O Henrique planeou um passeio, mas acho que pode ser à tarde.
- Óptimo. – Soraia levantou-se num pulo. – Vai buscar o bikini e a toalha.
Leonor queria aproveitar o pouco tempo com a filha. Assegurar-se de que a filha estava curada, ou pelo menos a caminho disso. Mas não pode negar a companhia das amigas que sempre estiveram ao lado da filha doente. Até lhe prometeram que a trariam de volta à hora do almoço.
- Não te esqueças do protector. – Disse à filha.
Maria desceu com uma malinha, onde levava a toalha, o protector solar, os óculos de sol e o seu diário. Quando alcançaram a rua, Raquel, animadamente virou-se para ela e disse.
- A tua mãe não nos podia negar um bocadinho de tempo contigo. – O cabelo esvoaçava-lhe suavemente enquanto ela caminhava pela rua. – E acredito que tenhas muito para nos contar.
- Tenho. – Maria admitiu. – Vamos para a praia de autocarro?
- Nada disso. – Soraia sorriu-lhe. – A minha irmã vai levar-nos.
A praia ficava um pouco longe. Cerca de meia hora de caminho, mas foi a melhor meia hora de toda a sua viagem até ali. Raquel e Soraia faziam-na sentir-se como se tudo fosse como dantes. Quando se juntavam para ir às compras, ao cinema ou a algum concerto de musica. Raquel é a que fala mais, de tudo. Por isso passou parte do caminho a contar novidades e coscuvilhices de conhecidos de Maria. Quando a irmã de Soraia se foi embora, elas foram as três para o lugar da praia mãos vazio.
- A tua mãe estava muito contente há uns dias. Ela disse que já não tinhas mais pesadelos daquele tipo. – Soraia começou.
- Pelo menos é o que ela pensa. – Elas esticaram as toalhas na areia. – Ainda ontem tive um. – Soraia e Raquel trocaram olhares e depois olharam para Maria. – E ainda por cima foi com uma pessoa que eu conheço.
- Oh não. Quem? – Soraia ficou pálida e Raquel tinha os olhos muito abertos.
- Vocês não conhecem. Lá na aldeia da minha avó, houve uma família que sofreu um acidente de carro. O pai morreu e um dos filhos, que são gémeos, ficou consciente após o acidente e assistiu à morte do pai.
- Que idade têm? – Perguntou Raquel chocada.
- São novinhos, fizeram dez anos há dois meses. – Soraia levou a mão há boca. Raquel sentou-se na sua toalha e olhou para o mar.
- Como é que estas coisas podem acontecer? – Raquel suspirou tristemente.
- E o pior é que o miúdo é primo direito da Tatiana. Eu vou ter que avisá-la.
- A Tatiana é aquela que é mais sensível a essas coisas, não é? – Raquel soava séria.
- Sim.
- Vais ter que lhe contar. Talvez ela consiga evitar o desaparecimento do miúdo. – Maria e Soraia encararam-na com espanto. Ela rolou os olhos. – Ele é uma criança. Não é um caso comum. Se alguém estiver junto dele, constantemente, pode ser que consiga evitar o seu desaparecimento. Ou pelo menos testemunhar e poder explicar como ocorreu.
- Isso pode ser demasiado arriscado para uma só pessoa. – Maria tirou o protector solar da malinha. – Eu não posso deixá-la sozinha a enfrentar uma situação dessas.
- De momento é a melhor solução, ou uma espécie de solução que tens. – Raquel encarou-a e remexeu na sua mala enquanto falava. – Nós já tentamos outras vezes impedir o desaparecimento de pessoas, e nunca resultou. – Tirou uma pequena bisnaga da mala. – Protector facial. É bem melhor que esse para a zona facial.
- Obrigada. – Maria espalhou o protector na cara. – Eu tenho que voltar o quanto antes para a aldeia. Não sei quando é que o desaparecimento vai ocorrer.
- Já ligaste para aquele rapaz. O que já sabe de tudo.
- Não, ainda não liguei ao Daniel.
- Meninas. – Soraia interrompeu. – Vamos aproveitar a manhã. Tens tempo, logo à tarde para ligar ao Daniel.
- Tens razão! – Maria tentou animar-se, mas em vão. Portanto fez-se parecer mais animada. – Vamos dar um mergulho?
Foi uma manhã maravilhosa. Maria esqueceu os seus problemas por completo. Raquel passou quase todo o tempo a falar de um rapaz que conheceu ali mesmo, naquela praia. Soraia só se lamentava por causa de não conseguir ficar tão morena como Raquel e, enumerava todas as técnicas que tinha tentado.
Quando chegou a casa ligou logo para Daniel. Ele pareceu calmo ao ouvir Maria falar sobre o seu último sonho. O que a alarmou ainda mais. De alguma maneira, sentiu que não estava a ser levada a sério.
Depois de almoço, Leonor fez questão de levar Maria e a avó Medina a visitar o seu salão de cabeleireira. Por muito impressionante que era em comparação ao antigo, Maria não conseguiu sentir entusiasmo. Apenas esforçava um sorriso ou outro, para não parecer aborrecida o tempo todo. Leonor estava demasiado excitada em mostrar a sua última conquista profissional, não notou muito no humor que rondava a filha. Por outro lado, Henrique apercebeu-se e tentou falar com a filha sobre outros assuntos. Mas não obteve grande sucesso. Por isso, quando apanhou Leonor entretida a fazer um corte de cabelo à avó Medina, chegou Maria a um canto mais afastado e falou-lhe.
- Eu sei que estás aborrecida por nós te termos enviado para a tua avó. Mas tens que perceber que fizemos isso com a melhor das intenções. – Maria não o julgou. Ele vivia assombrado com a decisão que tomara há quase um ano, era impossível desconfiar que o mau humor da filha não pudesse ser originado por um outro tipo de situação. Afinal de contas, ele pensava que Maria já não tinha mais sonhos daquele tipo. – Mas filha. – Ele continuou. – Se te sentires recuperada. Podes voltar para casa. Podes começar o novo ano lectivo aqui mesmo, na tua antiga escola.
- Não pai. Eu não estou aborrecida com nada disso. – Ela sentou-se num dos cadeirões onde as clientes se sentavam à espera. – Eu já ultrapassei isso. Da mesma maneira que os meus sonhos. – Ela acrescentou estrategicamente. – E a avó precisa mais de mim do que nunca. Ela não pode viver sozinha.
- Podia vir morar connosco.
- Não me parece pai. Isso ia acabar por matá-la. Tu sabes que ela não vive sem o seu quintal e as suas galinhas.
-Então porque é que estás assim?
- Assim como?
- Mal-humorada. Quase que me atrevo a dizer revoltada. – Maria deu um sorriso torto ao pai. O que o assustou um pouco.
- Vou começar um novo ano lectivo. Vivo longe de bons centros comerciais. E já lá vai um ano que não como um bom cheeseburguer. Reduzi a minha maquilhagem porque não encontro o que quero lá na zona. E pior do que isso, viver perto da fronteira não é muito favorável para a internet, por isso a minha é lenta como tudo. E para terminar. Deixei de receber a minha mesada.
- Oh. – As sobrancelhas de Henrique juntaram-se. – Tens toda a razão, foi uma grande mudança. Quanto a isso da tua mesada…bem, nós pensámos que era melhor termos cuidado, tu não estavas nas melhores condições para receber mesada. – Ele aliviou a sua expressão facial, de preocupada para compreensiva. – Eu posso tratar disso da tua mesada. E tens toda a razão. Eu não era capaz de viver um ano inteiro sem sequer me dar o cheiro de um cheeseburguer. Provavelmente ia ficar bem mais revoltado e mal-humorado que tu. – Maria acenou com a cabeça em sinal de agradecimento. Lançando um olhar do tipo “ora vez como tenho razão”.
A avó Medina parecia animada com o novo corte de cabelo. Leonor ia-lhe explicando o que estava a fazer, enquanto a penteava e lhe secava o cabelo.
- Amanhã vou compensar-te isso. Vou pedir à tua mãe que te leve ao centro comercial e depois podes ir almoçar comigo ao MacDonalds.
- Obrigada pai. – Maria abraçou o pai. Ele pareceu um bocado comovido com o gesto, e retribuiu o abraço. Maria ficou mais bem-disposta por ver a cara de alivio que o pai fez.
- Obrigada pai. – Maria abraçou o pai. Ele pareceu um bocado comovido com o gesto, e retribuiu o abraço. Maria ficou mais bem-disposta por ver a cara de alivio que o pai fez.
Eu quero mais, eu quero mais *-*
ResponderEliminarContinuação logo né?Vc escreve mto bem, Luna!Arrebenta!Continuesempreassim
bjkz
De sua leitora
(^_^)
ResponderEliminarVou postar o quanto antes!